segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o antestempo da atriz...


Formada em 2001 em Artes Cênicas pela Unicamp, a atriz Fabiana Fonseca sempre buscou aliar a criação artística com trabalhos comunitários; extrapolando a investigação estética, a atriz acredita que a Arte ganha maior sentido quando dialoga com a sociedade e transforma-se em Ação Social.
           
Em 2000 funda com um grupo de atores, ainda estudantes de teatro, o Grupo Matula Teatro (em Campinas – SP), onde atuou durante quatro anos no Projeto Arte e Exclusão Social promovendo peças com/e sobre moradores de rua; os espetáculos gerados nesse projeto tiveram a orientação de Renato Ferracini (LUME) na pesquisa de Mímesis Corpórea e a direção artística de Verônica Fabrini (Boa Companhia).  Em 2002 promoveram o evento “Se essa rua fosse nossa – semana de reflexão sobre Arte, Morador de Rua e Extensão Universitária” no Centro de Convenções da Unicamp.

A pesquisa de Mímesis Corpórea (observação, imitação e codificação de ações físicas e vocais observadas no cotidiano) orientada pelo ator do LUME vai influenciar toda a trajetória da atriz, que adota essa metodologia como principal foco do seu trabalho como intérprete.
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Em 2004 integra o grupo Boa Companhia (Campinas) e participa do Programa Copa da Cultura apresentando o espetáculo Mr. K e os artistas da Fome, baseado em conto de Franz Kafka, em Berlim (Alemanha), atuando também nos espetáculos: Esperando Godot ,de Samuel Beckett com direção de Marcelo Lazaratto e Galeria 17, que teve sua estréia em Portugal em 2007, atualmente é atriz convidada do espetáculo musical A Dama e os Vagabundos.

Em 2008, como artista independente realiza o projeto “Prostituição: Arte e Inclusão” com o patrocínio do FICC – Fundo de Investimentos Culturais de Campinas, onde realizou diversas apresentações do espetáculo solo “Eu quero ver a Rainha” criado pela atriz, baseado em depoimentos de garotas de programa de Campinas. Com este espetáculo a atriz participou do VI Congresso de Prevenção de DST/AIDS em Belo Horizonte e foi colaboradora na criação da primeira Associação de Profissionais do Sexo da cidade de Campinas. Também promoveu em conjunto com o grupo de teatro Os Satyros (SP) e a Ong Davida (RJ) o evento Teatro e Prostituição que contou com apresentações do espetáculo, debate e um desfile da Daspu (grife de Profissionais do Sexo) na Praça Roosevelt (SP).

Em 2009 a atriz muda-se pra Ribeirão Preto e depara-se com um novo desejo de pesquisa: a Cultura Popular Brasileira. A região conta com diversas cidades que mantém viva suas manifestações culturais regionais, tais como Congadas, Folia de Reis, Moçambiques, Cantoria das Almas; festas e encontros que a atriz acompanhou de perto, além de ser parceira na inscrição de três Grupos de Congada da cidade de Santo Antônio da Alegria no Prêmio de Culturas Populares 2009, no qual a cidade foi contemplada pelo Ministério da Cultura. Esse rico e diversificado material motivou a atriz a aprofundar suas pesquisas no campo da Cultura Popular Brasileira, sua última experiência foi uma viagem ao Pernambuco onde teve a oportunidade de ver de perto um encontro de Maracatus do Baque Solto e Caboclinhos. Atualmente está produzindo um vídeo-documentário sobre a Festa do Congo de Santo Antônio da Alegria.

Companheiros de Antestempo

Márcio Bá
Diretor Musical
Músico, compositor, multi instrumentista e Ator do Grupo Teatral Engasga Gato, grupo que atua desde 2007 na cidade de Ribeirão Preto e tem como foco principal a pesquisa sobre o ofício do ator em diálogo com a Cultura Popular Brasileira. Márcio é músico profissional autônomo desde 1996 e é formado em Música Popular pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto). Já desenvolveu trilhas sonoras e assinou a direção musical de diversos espetáculos e companhias. Foi premiado no VIII Festival de Resende pela trilha de “A história de amor Romeu e Julieta”, de Ariano Suassuna e montado pela Cia Cornucópia. Professor de Teoria Musical, Saxofone e História da MPB.


Alexandre Peres
Músico
Músico, compositor, multi instrumentista  formou-se em 2009 pelo Conservatório “Dr. Carlos de Campos”  de Tatuí – SP. Em 2008, participou como instrumentista da  peça de teatro “O poeta da Vila e seus Amores”, se apresentando pela região de São Paulo. Em 2008 e 2009 participou como músico de apoio do XXI e XXII Festival  de  Teatro Estudantil do Estado de São Paulo. Em 2009, juntamente com o grupo Formigueiro, participou do projeto “Esse choro é meu”, realizado pelo SESC Ipiranga. Como instrumentista, já se    apresentou ao lado de Nailor Proveta, Sizão Machado, entre outros nomes. Atualmente participa dos grupos Pimenta no Vatapá (Samba e Choro) e Formigueiro (Choro).


Raphael Funchal
Músico
Músico e multi instrumentista  formou-se em 2009 pelo Conservatório “Dr. Carlos de Campos”  de Tatuí – SP. Participa como instrumentista da peça premiada “Rosa de Cabriúna” de Luís Alberto de Abreu com o Grupo de Teatro do Conservatório de Tatuí e toca em diversos grupos de Choro e Forró.



Ana Carolina da Silva
Voz e Acompanhamentos
Atriz formada pelo Senac – Araquara, com formação em Ciências Sociais pela UNESP. Desde 2009 faz o Curso Livre de Teatro da Ong Ribeirão em Cena. Atuou nos seguintes espetáculos: “A Farsa da Boa Preguiça” de Ariano Suassuna, “Saída discreta pelas portas do fundo” baseado na obra “Sopro de Vida” de Clarisse Lispector, “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto e “Vereda da Salvação” de Jorge Andrade, atualmente integra o elenco do projeto “Mulheres Vermelhas” da Ong Ribeirão em Cena. Em novembro de 2010 participou do workshop de Ana Woolf (Argentina) no Solos Férteis, Festival Internacional de Teatro feito por mulheres (The Magdalena Project).


Bianca Gonçalves
Voz e Acompanhamentos
Estudante de Teatro. Participou do Grupo de Teatro do Colégio Auxiliadora de Ribeirão Preto montando diversas peças dentre elas uma adaptação do “Pequeno Príncipe”. Em 2008 e 2009 fez o Curso Livre de Teatro da Ong Ribeirão em Cena, atuando nos seguintes espetáculos: “Pedreira das Almas” de Jorge Andrade, “Valsa no 6” de Nelson Rodrigues e “Quintal a Ponte do Tempo” uma criação coletiva dirigida por Fabiana Fonseca.




sábado, 12 de fevereiro de 2011

Inspirações II

Quando a terra,
Se converte num altar,
A vida se transforma numa reza.
(Mia Couto)



Os outros: o melhor de mim sou eles.
(Manoel de Barros)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Inspirações I

"A gente não vai para o céu. É o oposto: o céu é que nos entra, pulmões adentro. A pessoa morre é engasgada em nuvem." 


( do livro Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra, Mia Couto)




Concepção Cênica




Espaço Cênico
O espaço é circular, o público está em torno, numa roda, todos compartilham a experiência de estar no Antestempo. O espetáculo foi pensado para salas alternativas, ampliando, dessa forma, as possibilidades de apresentações. Caso seja dentro de um Teatro, o palco é utilizado como espaço cênico incluindo a presença da platéia sobre o mesmo, dispensando o uso das poltronas. A proposta é a proximidade, o encontro dos olhares, o toque sutil, o sentir o pulsar e ouvir a respiração da atriz; todos num mesmo círculo que é movimentado a cada instante pela performance vocal e corporal. Construindo imagens, personagens e sonoridades que vagam pelo tempo e espaço circular a atriz busca reencontrar os rituais, as danças e os lugares consagrados ao divino.  Alguns pontos são fixados nessa roda:
O banco dos músicos – lugar dos homens e mulheres que produzem os sons com seus instrumentos e enriquecem com seus timbres a sonoridade do espetáculo. Inspirado no banco dos músicos do Cavalo Marinho, festa popular pernambucana.
O arco – como uma porta de entrada e saída para o do ritual teatral, inspirado nos arcos feitos de bambu nas Folias de Reis por onde os palhaços passam e deixam seus versos e brincadeiras.
O oratório - objetos que simbolizam a fé; um pequeno ponto que concretiza o ato de orar, por meio de imagens, incenso, fogo e água, a atriz utiliza elementos que despertam os sentidos da espiritualidade.
A casinha de Palmira – representada por um banquinho por onde brotam ramagens e flores, este é o espaço onde a atriz acolhe docemente a personagem inspirada em Palmira Linda, abrindo a porta de sua casa e apresentando-a ao público presente. 

Luz
Como o espetáculo foi pensado para espaços alternativos, sua luz segue a mesma lógica, com uma estrutura de iluminação alternativa que funciona com um seqüenciador que é ligado numa tomada comum 110 volts, com 5 canais que possibilitam criar um jogo de luz simples e funcional, incluindo um fio com várias lâmpadas coloridas que remetem as festas em pequenos povoados. Quando executado num teatro, utiliza-se o palco como espaço cênico, aproveitando seus refletores para enriquecer e ampliar os jogos de luzes que colorem e iluminam o antestempo.

Música ao vivo
A música é o principal elemento da peça, portanto, sua execução é no momento presente, realizada de maneira intensa, num diálogo profundo com as cenas. Os excelentes músicos tocam diversos instrumentos (acordeom, viola, violão, caixa, pandeiro, maracá, caxixi, agogô, garrafas, e instrumentos usados na Cantoria pras Almas como o berra-boi e matraca) que soam harmoniosamente a cada canto, a cada fala, a cada gesto da atriz. Os acordes e sons criam os climas e atmosferas que ecoam pelo espaço de antestempo, penetrando delicadamente nos ouvidos e nas almas dos que ali estão.
Algumas músicas do espetáculo foram escolhidas pela atriz Fabiana Fonseca numa pesquisa nos acervos de registros sonoros das músicas da cultura popular brasileira, entre eles: Músicas do Brasil, da editora Abril e Missão de Pesquisas Folclóricas de Mário de Andrade, do Sesc São Paulo; já outras músicas foram recolhidas diretamente na convivência com os ritos e manifestações populares. Duas músicas da peça são respectivamente baseadas nas Folias de Reis de Orlândia e de Pontal, um canto de oração é baseado na Cantoria pras Almas de Santo Antônio da Alegria e a Brincadeira de Boi foi inspirado na Festa de Boi do Maranhão (vivenciada em julho de 2010 pelo diretor musical Marcio Bá).

Público Alvo
Todos podem estar nesse Antestempo, mas o entendimento mais profundo se dará com maiores de 14 anos. Por abordar temas como Folia de Reis, Fé, Música e Religiosidade, o público da terceira idade tem uma identificação imediata com o espetáculo, reconhecendo-se nas histórias contadas, lembrando das músicas cantadas, eles participam e dialogam com as cenas. Dessa forma o trabalho valoriza a sabedoria dos mais velhos, colocando-os como protagonistas dessa história, resgatando seus valores e suas tradições.

O desejo de comunicar
O principal desejo é vivenciar o som, seu poder e suas possibilidades e com a música ir além, habitar num outro tempo, pelo menos por alguns instantes... Reconhecer a música como a arte de manifestar a fé e a alma. Ampliar nossas experiências do Ouvir e deixar-se penetrar por melodias, poesias, palavras, gestos e danças do povo brasileiro... esse povo que está tão próximo e ao mesmo tempo tão distante... desejo de aproximar, trazer o Outro pra dentro de si e aprender com sua simplicidade a ser mais FELIZ.